domingo, 6 de junho de 2010

Insonia

Nota de autor: Hoje, dia 6 de junho, foi um dia em que todos os fantasmas sairam do quarto, todos os esqueletos dançaram fora do armario, todas as almas viram o seu lótus...
Há dias assim, dias de chuva e sol, como descrever uma dança ? como descrever uma criação artistica ? como descrever o nascer do Sol sobre Lisboa ? São descrições impossiveis.

Acordei e estavas tu a dormir, ao lado, estava a mais selvagem guitarra que alguma vez tentei domar, tornou-se imperativo que saltasse da cama, e lhe arpejasse, sentei-me sobre a varanda, e a luz invadia as ruas, a brisa matinal deu lugar ao calor do sol, e estavas tu, deitada sobre a cama, na delicadeza da tua existencia, como se um tapir se alimentasse do teu maravilhoso sonho.
Tal vista apenas me deu ainda mais vontade domar aquela guitarra, guitarra é um nome tao feio de se pronunciar, aquela, nao era um mero objecto, tinha alma propria, tinha garra.
Envolvi-me com ela, e comecei numa luta semelhante à de dois galos numa capoeira, curiosamente a melodia nao era agitada, como a da noite passada, nao nao, esta era doce, nostálgica, quente e carinhosa, quando dei por mim, já te tinha com os braços em minha volta e a deleitares-me com a tua suave melodia ao que os Homens chamam de voz..
Que comunhão tão forte entre os três elementos tao heterogéneos, aquela nossa dança, era como se nao houvesse mais nada, senao aquela paisagem, para dizer a verdade, o resto vai ter que ficar ao encargo da vossa imaginaçao, eu perdi-me naquela paisagem, perdi-me, e nunca mais me encontrei desde aí.